A obra de Martins de Porangaba pode ser interpretada de duas maneiras: como figurativa, se considerarmos o tema, ou como abstrata, se considerarmos a escritura pictórica. De um lado, efetivamente, o assunto é a forma imaginária, uma livre inspiração em torno do tema da cidade, do campo, das profissões e das paisagens. Por outro, a pincelada é influenciada pelo gestual.
Expressão de uma história, a arte de Martins de Porangaba atinge, tanto nas suas formas mais acabadas quanto nos esboços, uma dignidade hierática que nos obriga estabelecer um laço de parentesco com a arte pré-histórica e a dos povos primitivos. Ela nos lembra a simplicidade das formas arquitetônicas da arte negra e nos leva, enfim, até as fontes da iconografia indígena.
Movidas por leis íntimas que ditam suas harmonias, as obras desse artista são resultados de leitura e releitura, que ele faz com exuberância e imensa riqueza interior, extraindo e acrescentando elementos sucessivamente.
Determinando uma dupla atmosfera de alegria e dramaticidade, é o expressionismo que domina seus quadros antes de tudo. Esses estímulos interiores, materializados por uma forma gráfica original, traduzem não somente o ritmo da linha superficial como também a pulsação da obra. Essa materialização tem sua origem num movimento inconsciente do traço, obtido pelos negros mais ou menos intensos que sublinham figuras e volumes, constituindo a estrutura arquitetônica da composição.
Não há dúvida de que a presença da cidade de Porangaba, torrão natal de José Carlos Martins, ao qual o artista está visceralmente ligado ” a ponto de ter-lhe incorporado o nome ao seu próprio “, é tão fundamental em sua obra que só é possível entendê-la amplamente a partir dessa ligação indissolúvel.
As obras <1>Vida de Interior, Canteiro de Obras e Entre as Flores, doadas ao Museu de Arte do Parlamento de São Paulo, respectivamente pelo Instituto de Recuperação do Patrimônio Histórico no Estado de São Paulo, por este crítico e pelo próprio artista representam três fases interligadas de sua pintura.
O artista
Martins de Porangaba, pseudônimo artístico de José Carlos Martins, nasceu na cidade de Porangaba (SP), em 1944. Iniciou seus estudos artísticos como autodidata, em 1953. Em 1967, ingressou na Associação Paulista de Belas Artes, onde freqüentou, a partir de 1970, o curso livre de modelo-vivo. Estudou gravura com Paulo Mentem e modelagem com Olinda Dalma. Conviveu e trabalhou com vários artistas, entre os quais Paulo Mentem, Menacho e Mário Zanini.
Recebeu inúmeros prêmios em 1981, entre os quais: Prêmio Aquisição no XIV Salão de Arte Contemporânea de Piracicaba; Medalha de Bronze no XVIII Salão de Artes Plásticas do Embu; 1º Prêmio no II Salão de Arte Contemporânea de Marília (Prêmio Deputado Cunha Bueno); Rosa de Bronze no Salão da Associação Paulista de Belas Artes; IV Salão Nacional de Artes Plásticas; II Salão Paulista de Artes Plásticas e Visuais; e I Salão Nacional de Artes Plásticas de Novo Hamburgo, RS.
Começou a expor em 1971, participando de vários salões, exposições coletivas e individuais, como o Salão da Associação Paulista de Belas Artes, onde recebeu Menção Honrosa (1979) e Medalha de Bronze (1980). Esteve presente ainda em inúmeras exposições coletivas e individuais no Brasil e no exterior, notadamente nos Estados Unidos, Portugal e Japão. Desde 1980 orienta um curso de pintura na Escola Panamericana de Arte, em São Paulo.
Suas obras encontram-se em coleções particulares da Inglaterra, Portugal, França e Brasil e no acervo do Museu de Arte do Parlamento de São Paulo.