Nos últimos anos, o interesse pelo visto EB-2 NIW cresceu exponencialmente entre os brasileiros que sonham com uma vida legal nos Estados Unidos. Com a promessa de conceder o green card a profissionais qualificados sem a exigência de uma oferta de emprego, esse tipo de visto se tornou uma alternativa atraente para quem deseja imigrar. No entanto, o que muitos não sabem é que por trás dessa oportunidade existe um cenário obscuro, onde decisões arbitrárias e falta de transparência têm prejudicado seriamente candidatos bem preparados.
Muitos profissionais investem tempo, dinheiro e esforço para atender aos requisitos exigidos pelo processo. Elaboram dossiês robustos, traduzem documentos, coletam cartas de recomendação e contratam advogados especializados. Apesar de cumprirem cada etapa com rigor, enfrentam a decepção de ver suas petições negadas por razões incoerentes ou sem justificativa técnica clara. Isso ocorre porque o julgamento das solicitações é feito por oficiais administrativos do USCIS, que possuem ampla liberdade para aceitar ou rejeitar os pedidos com base em critérios subjetivos.
O fato de os pareceres emitidos pelos oficiais do USCIS não seguirem uma padronização ou necessidade de explicações aprofundadas tem gerado indignação. Muitos relatos de candidatos negados indicam que as decisões parecem aleatórias, com justificativas genéricas ou, em alguns casos, completamente desconectadas da realidade do processo apresentado. Há casos em que o nome ou o gênero do solicitante é citado de forma errada, sinalizando que o oficial sequer leu a documentação enviada com atenção.
Outro agravante é o papel dos advogados de imigração que operam nesse nicho. Embora alguns atuem com ética e clareza, há muitos relatos de profissionais que preferem não alertar seus clientes sobre os riscos envolvidos no processo. Em vez de fornecer uma visão realista, optam por reforçar a ideia de que o perfil é forte e as chances são elevadas, utilizando argumentos legais convincentes para fechar contratos de alto valor. Assim, vendem uma promessa que pode não se concretizar, mesmo quando todos os critérios objetivos forem atendidos.
A frustração cresce quando o candidato descobre que, ao contrário de processos judiciais, o indeferimento de um pedido de visto EB-2 NIW não oferece um caminho claro para contestação. Sem um tribunal para recorrer e com poucas possibilidades práticas de reversão, a negativa representa o fim do processo — pelo menos até que o candidato decida iniciar tudo novamente, com novos gastos e sem garantia de sucesso. Isso transforma o sonho em um ciclo de esperança e frustração que pode custar anos de vida e milhares de dólares.
As estatísticas oficiais revelam uma realidade desigual. Embora as taxas de aprovação do visto EB-2 NIW variem entre 50% e 75%, uma análise mais cuidadosa mostra que os profissionais mais beneficiados são, em sua maioria, norte-americanos ou estrangeiros atuando em áreas tidas como estratégicas para os Estados Unidos, como engenharia de ponta e pesquisa científica. Profissionais brasileiros, especialmente de áreas como direito, educação e saúde, enfrentam um cenário muito mais desafiador.
Diante desse contexto, é urgente que brasileiros interessados nesse tipo de processo tenham acesso a informações claras, transparentes e realistas. A decisão de aplicar para o visto EB-2 NIW deve ser feita com consciência dos riscos envolvidos e não baseada apenas em promessas feitas por escritórios de advocacia. Uma avaliação criteriosa do perfil, acompanhada de uma análise honesta do cenário atual, é fundamental para evitar armadilhas disfarçadas de oportunidades.
Por fim, o alerta é claro: o visto EB-2 NIW, embora legalmente viável, exige muito mais do que qualificação e documentos em ordem. É preciso compreender a natureza política e subjetiva do processo, escolher parceiros jurídicos com responsabilidade e estar preparado para enfrentar um sistema que, por vezes, ignora até mesmo seus próprios critérios. A informação é a melhor arma contra a frustração de sonhos imigratórios interrompidos por decisões que pouco têm de justas.
Autor : Semyonova Solpav